O tempo batia asas. No mundo dela era sempre noite. Mesmo de manhã, o céu permanecia no mais completo breu. Cansada daquela mesmice, passou a questionar os porquês de sua existência e da origem do mundo. Procurava uma lógica para explicar os fatos e se perdia em suas próprias explicações. Uma idéia fixa martelava em sua cabeça: precisava sair dali e descobrir se tudo era sempre daquele jeito ou se lá longe, bem distante, haveria uma outra realidade. E pôs-se a caminhar. Todo chão era pouco perto do desejo que a movia. E então chegou numa das pontas do mundo: tudo continuava a ser sempre daquele jeito e lá longe, bem distante, não havia nenhuma outra realidade. Deu a volta e segiu obstinada. Quanto mais andava, mais sentia o tamanho do mundo. De seus pés brotavam calos. O corpo padecia , descascava, transmutava. E os porquês se tornavam cada vez mais audíveis dentro do seu coração. E no que cruzou o sul, o norte, o leste e o oeste do mundo: tudo continuava a ser sempre daquele jeito. E ela percebeu que lá de longe, bem distante, não havia outra realidade. Quanto mais andava, mais sentia o tamaninho do mundo. Não havia mais para onde ir e seu corpo já não aguentava mais acompanhar o ritmo frenético dos porquês de sua cabeça. A massa corpórea inchava, padecia, pipocava. Achou que fosse morrer naquele momento, mas quando voltou para si é que percebeu a transformação. O corpo dela havia crescido tanto que já não cabia em seu mundo. Com toda aquela pressão, o céu foi se rasgando vagarosamente até revelar a luz. Em seu novo mundo era sempre dia. Mesmo de noite, as estrelas garantiam uma luminosidade que ela jamais poderia prever quando lagarta andante dentro de uma caixa de sapato. Agora era diferente. Ela batia as asas.
quinta-feira, 26 de março de 2009
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